Um certo dia, conheci uma garota. Seu nome, ela não me disse, pois não gostava dele. Então, resolvi colocar um apelido nela: Juaninha. E isso porque ela não se fixava em lugar nenhum.
Sua história é meio complicada. Há muito, uma prostituta teve uma filha. Como não tinha condição de criar a criança, a mulher a deixou na porta de uma mansão. Junto à criança, ela deixou um bilhete que dizia o seguinte: “Peço que crie minha filha, pois não tenho condição de criá-la, porque sou uma mulher da vida. Cuide dela com todo carinho e não diga nunca para ela quem foi sua mãe”.
Quando a dona da casa abriu a porta, se deu de frente com aquela doce e meiga garotinha. Ficou meio sem saber o que fazer, mas logo a pegou e a levou para dentro de casa. Ao pegá-la do berço viu o bilhete e o leu. Como aquela senhora não podia ter filhos, devido a um acidente que a impossibilitou desse prazer, resolveu ficar com a menina e criá-la.
Nas mãos da criança a senhora viu uma Juaninha ¬– aquele inseto bem pequeno e que dizem ser um inseto da sorte. E por isso resolveu batizá-la de Joana.
Os anos se passaram e Juaninha foi crescendo. Na escola ela era uma excelente aluna e todos gostavam dela. Quando completou dez anos a menina resolveu entrar na aula de guitarra – a facilidade de aprendizagem da menina era de se espantar. Continuou estudando guitarra, se formou e quando completou dezoito anos, sua mãe de criação resolveu contar toda a verdade para a menina.
– Joana, vamos conversar.
– Mas, mãe!... Tem que ser agora?
– Tem sim, minha filha. Ligue para um de seus amigos e fale que você não irá sair hoje.
Juaninha fez o que a mãe lhe havia pedido.
– Pronto, mãe. O que a senhora quer falar comigo de tão sério assim?
– Bem, é uma história muito longa, mas vou resumi-la para você. Dezoito anos atrás, uma senhora deixou uma cesta com uma criança em minha porta.
Diante destas palavras, Juaninha arregalou o olho, mas permaneceu calada.
E a mãe continuou:
– Esta criança era você.
– Mas então quem é minha mãe e quem é meu Pai.
– Bem, sua mãe é uma mulher da vida, ou seja, uma prostituta, e por isso a deixou aqui para eu poder criá-la, pois ela não deveria ter condições de para isso. Seu pai eu não sei quem é, pois na carta que sua mãe deixou, nada havia a esse respeito.
Juaninha, então, saiu correndo, subiu as escadas e se trancou no quarto.
Sua mãe foi atrás.
– Abra a porta, minha filha, abra a porta.
– Eu não quero falar com ninguém agora. Deixe-me sozinha.
A pobre senhora ficou triste, e foi para o seu quarto. No outro dia, ao amanhecer, ela foi até o quarto de Juaninha. E lá encontrou as roupas jogadas no chão. Sentiu falta da guitarra e em cima da cama achou um bilhete: “Mãe, obrigada por ter me dito toda a verdade. Vou sumir por um bom tempo. Obs.: Não me procure. Beijos da filha que a ama.
Juaninha havia saído de casa bem cedo e pegado carona, na estrada, com um caminhão. Foi parar em Barra Mansa. Naquela cidade, a primeira pessoa que ela conheceu foi Juba, que ao saber de sua história a convidou para almoçar em sua casa.
Juba apresentou Juaninha a seu pai e contou para ele a história de sua nova amiga. Diante do que ouvira, o pai de Juba então convidou a jovem para morar com eles. Juaninha aceitou o convite.
Desde aquele dia as duas jovens ficaram superamigas. Com isso Juaninha passou a andar com a turma de Juba. Logo se apaixonou por Bira que tocava bateria. Dias depois, eles começaram a namorar. O assunto dos dois era sempre música e eles estavam pensando em formar um grupo de Rock. Chamaram Júlio que cantava bem, Guila que tocava baixo, Nando que tocava órgão e Filhão, saques. Júlio resolveu botar o nome do conjunto de “Boca Atentada”.
O primeiro show foi no Clube Municipal. O show foi um sucesso total. Todos gostaram e, por isso, vários convites foram enviados para o conjunto. Dentre todos os convites, o melhor foi o de tocar no Rio de Janeiro na Festa da Primavera.
Depois de estudar muito bem o convite, o grupo resolveu aceitar. Logo em seguida começaram a treinar mais para aperfeiçoar as músicas. Os dias foram se passando e, finalmente, o grande dia chegou.
O grupo foi bem cedo para o Rio, para a afinação dos aparelhos e os últimos toques. Chegou a grande hora. O conjunto entrou e fez o seu papel. O show foi um sucesso.
No camarim, logo após o espetáculo, o grupo recebeu uma proposta para tocar em um festival de Rock em São Paulo. Todos ficaram animados e foram para o ônibus.
Por um descuido do motorista, houve um acidente. Logo chegou o socorro, levando os componentes da banda para um hospital. Em lá chegando, Bira faleceu. Juaninha, revoltada com o acontecido, resolveu ir embora dali mesmo sem falar com ninguém. A garota andou por muito tempo, e ao chegar em um lugarejo conheceu um rapaz chamado Kayal, a levou para comer algo e conversar com ela.
– O que está havendo com você?
– Não me pergunte nada.
– Mas deve ter alguém preocupado com você...
– Eu sou sozinha no mundo.
– Não se desespere, garota. Eu também sou só. Você pelo menos teve alguém na vida. Eu não e sou feliz. “Sofremos muito, eu sei... Só nós sabemos as lutas invencíveis que travamos, de nossas próprias cinzas renascemos”! Lembre-se sempre destas palavras, pois poderá mudar o seu caminho.
A jovem se levantou e foi embora. Com aquelas palavras em sua cabeça, resolveu voltar para a casa de sua mãe de criação.
Ao ver a filha, a senhora a abraçou bem forte e disse:
– Minha filha, você voltou!?
Esta é a história de Juaninha, uma jovem que teve o sabor das coisas boas e ruins por um longo tempo.
Eu, seu amigo misterioso, disse a ela antes de morrer:
“Teu barco parou em calmaria
se pensas que tua mãe sorria,
erraste, sofria.
Nesse mar em que ousaste navegar,
aprendeu a amar e sonhar,
Mas quando acordou
já era tarde, pois sua vida
se acabou”.
Este conto foi escrito por mim e está no meu livro Virtual:
http://www.ebooks.avbl.com.br/biblioteca1/lv1/avidaemcontos/informacoes.htm